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Mitos e verdades sobre aquecimento

O aquecimento é a componente básica e inicial de preparação para o treino ou competição. O objectivo principal do aquecimento é criar no atleta uma predisposição para o esforço, ou seja, criar as condições para que ele possa aplicar todas as energias indispensáveis para o melhor desempenho e ainda prevenir a ocorrência de lesões nos músculos ou articulações e acidentes, sempre indesejáveis.

Aquecimento é ainda um meio de preparar psicologicamente o atleta para o treino ou competição, uma vez que funciona como veículo de descarga das tensões e das emoções, "limpando" o espírito do atleta e disponibilizando-o mais para a concentração na actividade que ele irá realizar, enquanto atleta em acção.

Como não é aconselhável e é "contra natura" a passagem repentina de um estado de repouso para um estado de grande solicitação ao nível dos sistemas articular, muscular, neurológico, pulmonar e cardiovascular todos os atletas devem realizar uma actividade de adaptação progressiva do organismo, que mais não é que o Aquecimento!
O princípio correcto da realização do Aquecimento é aquele que nos refere que este consiste numa actividade física de intensidade média e duração variável em que são considerados os músculos ou grupos musculares que serão mais solicitados no treino ou na competição a que se refira o aquecimento.

Todos os jovens, no seu processo de formação, devem ser encorajados a conhecer os benefícios da prática desportiva, bem como os rituais inerentes à disciplina ou modalidade que praticam e serem esclarecidos acerca das normas regulamentares dessa mesma modalidade ou disciplina do atletismo, não esquecendo outros aspectos relacionados com a táctica e o treino, tais como o doseamento do esforço e o aquecimento prévio, para que eles usufruam ao máximo dos prazeres que pode proporcionar essa mesma prática desportiva ou extraiam dela o maior número possível de benefícios.

Com o evoluir do jovem e o passar do tempo em contacto com a modalidade, praticada de uma forma consciente e sequente, ele tornar-se-à experiente dentro dessa mesma prática e será capaz de assumir sozinho a responsabilidade da realização de algumas tarefas, entre elas o aquecimento, pois a um determinado nível este deve ser totalmente individualizado, uma vez ser determinante na obtenção dos resultados e nenhum atleta nesta fase deve deixar de tomar a opção de o fazer, pois ele melhor do que ninguém saberá a intensidade e a duração de cada exercício, bem como a melhor forma de os executar e a sequência que deve seguir para se encontrar em situação óptima quando iniciar a competição ou o treino, não só no aspecto físico, mas também técnico e psicológico.

Uma chamada de atenção que parece ser importante e que se verifica com frequência vai para o facto de muita gente confundir aquecimento com treino e estes são coisas totalmente opostas.

Não existem métodos universais ou rígidos para a realização do Aquecimento, muito pelo contrário - existe uma grande variedade de métodos. O método mais vulgar é o do aquecimento geral realizado através de uma actividade física que envolva os grandes grupos musculares, realizando exercícios e movimentos activos. Neste género de aquecimento faz-se um pouco de corrida e executam-se alguns exercícios de ginástica geral o que é insuficiente.

O mais adequado é o Aquecimento específico e realizado de uma forma activa / dinâmica. Este tipo de Aquecimento envolve os grupos musculares que serão prioritariamente solicitados durante a competição ou treino, nele se incluindo movimentos idênticos aos da actividade a realizar, embora realizados a uma intensidade mais baixa. De uma forma geral este método de aquecimento é organizado da seguinte forma. Corrida contínua lenta, Movimentos variados de corrida e marcha, Exercícios de descontracção, Exercícios de flexibilidade e de mobilidade articular, Exercícios de coordenação, Exercícios da própria disciplina para preparar o ritmo de execução.

Em termos gerais o seguinte quadro conceptual pode servir de referência

EXERCÍCIOS VELOCIDADE SALTOS LANÇAMENTOS MEIO FUNDO
Corrida continua lenta 8 a 10 minutos 5 a 7 minutos 5 a 7 minutos 25 a 30 minutos
Exercícios gerais de movimentação 4 a 5 minutos 4 a 5 minutos 2 a 3 minutos 4 a 5 minutos
Exercícios de mobilidade articular 10 a 12 minutos 10 a 12 minutos 10 a 12 minutos 7 a 9 minutos
Exercícios de elasticidade 5 a 7 minutos 4 a 6 minutos 4 a 6 minutos -
Exercícios técnicos da especialidade 8 a 10 minutos 8 a 10 minutos 8 a 10 minutos 3 a 5 minutos
Colocação marcas, corridas controle, passagem de barreiras, lançamentos,... 5 a 7 minutos 5 a 7 minutos 8 a 10 minutos -
Tempo decorrente do Aq. até à prova 7 a 10 minutos 7 a 10 minutos 7 a 10 minutos 4 a 5 minutos

Relativamente à postura e comportamento dos atletas durante o Aquecimento para competição poderemos catalogá-los em dois grupos. No primeiro grupo encontram-se os atletas que encaram o aquecimento com naturalidade e o realizam tendo por finalidade a sua prontidão neuro-muscular para a competição. No segundo grupo encontram-se os atletas que no aquecimento também se preocupam com outras questões mais do foro volitivo e psicológico. Para estes o aquecimento também serve de momento de concentração e da realização de um esquema mental para a competição.

Durante o aquecimento a maioria dos atletas procura fazê-lo individualmente porque isso lhe proporciona maior possibilidade em se concentrar e realizar uma revisão mental das componentes técnicas de que necessita no seu desempenho. Em termos da componente física aproveita o momento para uma maior consciencialização do estado dos seus músculos e dos sistemas de produção de energia que lhe irão ser solicitados no decurso do esforço a desenvolver nos minutos seguintes.

As componentes de ordem táctica também são "abordadas" neste momento e são revistas as estratégias definidas para o desempenho, tendo em vista a obtenção da melhor performance.

Por último o momento é adequado para um reforço da componente mental / emocional e reforçar a conjugação de todos os elementos anteriores favorecendo a estabilidade, a serenidade e o controlo mental.

O aquecimento desempenha um papel importante no sucesso, não tirando o atleta o máximo rendimento das suas capacidades nem tendo a possibilidade de alcançar uma boa performance se este não for realizado como deve ser. Num bom aquecimento os factores apontados anteriormente devem estar equilibrados. Acredita-se que o factor crítico para o sucesso ou o melhor desempenho, seja o modo como o praticante lida mentalmente e emocionalmente com as solicitações da prova e tal prepara-se no treino e ainda nos momentos que antecedem a prova.

Como no treino é relativamente pouco o tempo que se dedica à preparação mental, fica a maior parte dos praticantes entregues a si próprios não sabendo muitas das vezes como agir ou reagir perante as situações da competição. È natural que com o passar do tempo e com o acumular da experiência os atletas aprendam a enfrentar sozinhos estas situações. Nos momentos que antecedem a competição a ansiedade aumenta e os níveis de confiança muitas das vezes baixam pelo que devem ser os atletas preparados durante o treino para serem corajosos e fortes perante as potencialidades dos seus adversários e devem ser ensinados a controlar esses níveis de ansiedade. Atletas bem preparados a este nível utilizam o aquecimento para descarregarem as tensões e para relaxarem do stress acumulado. Estes entram nas provas com maiores probabilidades de alcançarem o sucesso.

Os atletas têm uma grande parte da responsabilidade da sua postura durante a competição e não podem questões do foro emocional perturbar a sua tomada de decisões pelo que durante a sua preparação não pode descuidar aspectos que, por vezes, parece não terem grande importância ou significado. Há inclusivamente atletas supersticiosos que durante o aquecimento assumem sempre a realização de exercícios pela mesma ordem. Outros há que no aquecimento usam sempre a mesma roupa ou calçam sempre as mesmas sapatilhas. Ao entrarem na pista para competirem muitos fazem-no sempre da mesma maneira: pé direito à frente, mãos postas, fecham os olhos por momentos e abanam rapidamente a cabeça. Alguns batem na face com ambas as mãos, beijam a imagem do fio, outros usam qualquer coisa de muito pessoal, como por exemplo fios, pulseiras, etc.

Estas questões parecendo insignificantes têm para muitos atletas uma importância decisiva e se qualquer coisa não decorrer dentro desta "normalidade" ficam afectados psicologicamente e participam em sub-rendimento e muitas vezes desistem como acontece nas corridas.

O comportamento dos atletas justifica a maior parte das vezes a escolha de determinadas opções ou conceitos, não se devendo contrariar questões que são do foro intimo e pessoal como as superstições, as crendices e a fé. A ilusão ajuda a alimentar a mente e pode no caso de atletas susceptíveis fortalecer a sua capacidade de luta e torná-los mais agressivos e lutadores. Uma questão importante é a estabilidade do atleta e tudo deve ser feito para que essa estabilidade não seja abalada.

Muitas das vezes uma aparente calma apresentada pelo atleta durante o aquecimento esconde um enorme nervosismo, sendo uma forma de camuflar as suas dificuldades e dúvidas acerca da competição. Esta aparente calma que mais não é que uma tensão pode, na maioria dos casos, ser destruidora das capacidades do atleta e só numa pequena percentagem se reverte a favor do competidor. É nesta fronteira que se encontra aquilo que pode ser apelidado de um atleta bem treinado em termos psicológicos em oposição aos atletas descrentes e como tal mal preparados neste aspecto da mente. Esta é uma questão quase dramática do desempenho desportivo e que potencia a vitória ou arrasta o atleta para o oposto e como tal o arrasa em termos psicológicos

É também durante o Aquecimento que a maior parte dos atletas manifesta os seus complexos ou a sua desinibição. Os complexados geralmente isolam-se no aquecimento, procurando locais mais recatados ou escondidos e não se relacionam com os colegas ou adversários, como se a rivalidade ou a competição começasse logo aí. Estes tentam esconder o tipo de exercícios que realizam como se se sentissem vergados a um sentimento de culpa, ou uma vergonha descabida, que, naturalmente, lhes retira algum do prazer inerente à prática desportiva e divorcia o corpo da alma submetendo-se a um conflito consigo próprio que subtilmente os consome e os pode prejudicar na competição, para a qual partem, eventualmente, "amputados"! Não nos devemos esquecer que o corpo, mais que uma simples máquina e diferente do todo unitário, é, quiçá, um dos vértices do triângulo da condição humana, sendo os outros a alma e o espírito.

No entanto, o comportamento anterior também deve ser entendido à luz da identidade própria de cada um, uma vez estar ultrapassado o conceito animalesco do corpo, em que este era entendido como uma máquina e uma máquina que se pretendia infalível. Os factores antropológicos acentuam, com razão, que no homem há mais que a simples natureza, mas há também uma transcendência que deve ser respeitada, sob pena de se ser contraditório em relação às virtualidades do desporto. O atleta tem de ser respeitado enquanto homem e, assim, deve ser entendido todo o seu comportamento durante o treino, o aquecimento e a competição. Embora se possa intervir nesses domínios e possa influenciar o praticante nunca se deve ultrapassar uma fronteira do razoável para não se reduzir o atleta à tal condição de animal.

É por estas razões que se percebe que o desporto não pode apenas ser explicado pelos seus mecanismos biofísicos mas tem de ser entendido e compreendido como uma entidade também cultural e o Aquecimento para treino ou para competição também terá de ser visto desta maneira. Os mitos que o rodeiam não passam disso mesmo. O mito de que o aquecimento deve ser feito desta ou daquela maneira está relacionado com uma questão cultural e de tradição que não faz, nos tempos de hoje, qualquer sentido - o que interessa é aquilo que de positivo o aquecimento represente para a prestação do atleta.

José Costa

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