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RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO ATLETISMO

O caso da relação e comunicação treinador-atleta

"O ACTO DE ENSINAR É UM ACTO ÉTICO"

Procurando dar expressão a um conjunto de preocupações relacionadas com o Ensino e o Treino do Atletismo, arriscamos a escrita deste texto. Fazê-mo-lo na tentativa de evidenciar a dimensão ética do compromisso que deve aproximar o treinador do atleta ou futuro atleta, em suma, um homem de outro homem. Iremos por isso privilegiar a referência à relação que coloca frente a frente educador e educandos, considerando que se trata de um encontro humano paradigmático do ponto de vista ético, pois o acto de treinar alguém é (ou deveria ser!) um acto de ensino, ou seja, um acto pedagógico.
O treinador tem a prerrogativa de ampliar a sua influência sobre aqueles que se submetem às suas orientações. Neste texto visamos a preocupação da consciência que temos da medida em que esses poderes afectam, ou podem afectar o sujeito, enquanto sujeito.

Numa sociedade cada vez com mais apelos diferenciados para tudo e para nada, não se pode ignorar a importância que desempenham todos os indivíduos relacionados com o processo educativo - treinadores incluídos -, pois o processo de treinar, insistimos, mais uma vez, deve ser um acto educativo.

A mensagem do treinador no trato diário com os praticantes deve ser uma mensagem humanista, que se afaste do obscuro pragmatismo que caracteriza o mundo contemporâneo e que timbra com contornos muito fortes a educação dos jovens, cujos reflexos ainda estão por determinar no seu impacto futuro.

A presença do treinador durante o treino dá um contributo enorme para o entendimento da actividade como uma parcela da formação do carácter. No entanto, a sua presença terá de ser activa e assumir uma abordagem muito para além do meramente técnico ou instrumental. O carácter dos praticantes molda-se, também, e talvez de uma forma decisiva nestes momentos de realização do treino. Treinar é educar e educar significa intervir, de forma intencional e organizada na orientação do futuro do praticante enquanto atleta e enquanto homem.

Todos os jovens que fazem parte de um grupo de treino têm de ser incentivados a cooperar nas aprendizagens de forma a darem conteúdo a um projecto, que se pretende seja desenvolvimentista. A todos os jovens do grupo deve ser atribuída uma parte do projecto e, como é lógico, o treinador também faz parte dele. Além de ser uma peça do projecto deve ser o (um) mentor desse mesmo projecto. Uma grande parte da responsabilidade recai sobre os seus ombros.
O projecto é nada mais nada menos que o processo, o percurso, para atingir um determinado objectivo de rendimento. No caso particular do atletismo além de objectivos intermédios existe um grande objectivo tabelador da acção inerente a todo o processo e que se pode denominar de prontidão desportivo-motora.

A forma de avaliar esse estado será realizar uma análise das tarefas motoras, do estado de preparação e progressão e as exigências emocionais e cognitivas do praticante. A relação dialéctica nesta descoberta cimenta a cooperação entre educador (treinador) e educando (atleta) e contribui de forma decisiva para o cimentar das componentes do desenvolvimento do potencial máximo das capacidades de desenvolvimento e aprendizagem.

Quando a relação treinador - atleta vai para além do aspecto formal do controle do treino e vai para o campo do ensino com os mecanismos que lhe são próprios de apresentação, execução, observação, correcção, acompanhamento e aconselhamento da realização das tarefas motoras, o processo cíclico de repetição tende a aumentar os níveis de aceitação e para elevar a predisposição em aceitar maior dosagem e variedade de estímulos necessários para que a resposta motora seja cada vez mais eficaz e o rendimento se potencie. Este comportamento pode ser considerado de "humanização do treino", uma vez que o praticante cria laços de afectividade com o treinador e não fica com a noção que é uma máquina de repetições ou uma marionete articulada da qual se exige a realização de gestos perfeitos.

A profusão de experiências, que culminem, em respostas motoras com êxito, desde idades muito baixas é um bom meio de promoção da prontidão necessária para as aprendizagens seguintes. Ora estas não acorrerão se a relação treinador - criança se restringir ao "debitar" do treino e a comunicação e interacção forem inexistentes.

A determinação da prontidão desportiva não se suporta só nos indicadores de crescimento e maturação biológica, havendo a acrescentar a estes a experiência acumulada, o nível de execução das habilidades e também a motivação para a prática que advém por uma maioria de razões da influência exercida pelo treinador.

Como as crianças e jovens iniciam a sua prática desportiva em idades bastante diversas tem o treinador de ter um vasto leque de conhecimentos dos aspectos psicopedagógicos, psicossociais e psicofisiológicos para dar uma resposta correcta e efectiva às necessidades de cada um dos jovens e estabelecer assim a tal relação já tantas vezes referenciada neste texto.

De acordo com Adelino (Jorge), Vieira (Jorge) e Coelho (Olímpio) "Treinar é, por excelência, um processo de comunicação entre o treinador e os praticantes. Por isso a relação entre estes não se resume a uma mera transmissão e recepção de informação constituindo antes uma interacção dinâmica, recíproca, por vezes conflituosa, em que cada interveniente "vê" o mesmo facto ou situação de uma forma pessoal, selectiva e aberta à distorção, de acordo com os seus valores, expectativas e experiências".

Naturalmente que, o treinador comunica com os praticantes de que é responsável de formas muito diversas. Por um lado, deve demonstrar alguma "preocupação" por questões particulares de cada um e interessar-se por alguns, ou pela totalidade, destes problemas, uma vez o treinador dever desempenhar em inúmeras situações um papel de "Pai".
Por outro lado, deve ter presente uma conduta de isenção, igualdade e justiça no tratamento que dispensa aos praticantes durante o treino e para além deste momento.

Um treinador que pretenda ter uma boa aceitação e pretenda marcar uma "presença forte" entre os atletas, deve recorrer, com oportunidade, e dentro da medida correcta ao humor, evitando o sarcasmo, e com critérios dentro do aceitável também à zanga e ao chamar de atenção. É, geralmente, através de condutas e actos precisos, correctos e oportunos que o treinador se impões e não através de palavras ou discursos.

Um treinador comunicante e empenhado no sucesso total corrige os erros com oportunidade e com pragmatismo, dentro de critérios percursores do sucesso e aplaude os sucessos e os esforços que os praticantes fazem para melhorar o seu desempenho, ou para fazerem bem. Treinadores desta estirpe promovem uma boa comunicação, promovem a amizade e criam um bom ambiente de treino, ao mesmo tempo alegre e sério, mas também descontraído, concentrado e responsável, que não deixa entrar no grupo, estados de desânimo ou de crispação.

Sabe-se que a comunicação é um processo com dois sentidos, cabendo, no entanto, ao treinador a responsabilidade maior no sentido de criar condições para que ela seja boa e seja uma realidade constante, no sentido da facilitação da existência de boas relações interpessoais e como meio facilitador do processo ensino - aprendizagem.
O treinador tem de se preocupar com a eficácia pedagógica da sua relação com o atleta, isto é, com o modo como consegue comunicar com ele. Esta medida contribui para o alcançar de maior êxito desportivo. O comportamento do treinador terá de ser cuidado, não só no momento e local do treino, mas também fora do treino e antes e após as competições.

De acordo com a opinião de Gonçalves (1987) alguns estudos desenvolvidos sobre a temática da relação treinador - atleta, identificam alguns factores que contribuem para o sucesso dessa relação pedagógica.
Um dos principais aspectos relaciona-se com a organização das sessões de treino. De seguida aparece a forma como são apresentadas as situações de treino. Releva-se, a seguir, o aproveitamento do tempo disponível para o treino e a taxa de empenhamento motor do atleta. Outro dos factores decisivos, apontado é a reacção do treinador à prestação dos atletas. Aponta-se, ainda, outro factor de muita importância que é a existência de um clima positivo no treino.

Este aspecto do clima de treino assume uma importância decisiva. Entende-se por clima de treino, o ambiente criado pela interacção treinador - atleta. No treino de atletismo, um clima positivo apresenta-se como um dos factores que contribui para o sucesso do ensino, de acordo com a opinião de muitos dos praticantes que conhecemos. De acordo com as opiniões recolhidas, os atletas compreendem, aceitam e consideram os treinadores que utilizam frequentemente intervenções que visam a intensificação do esforço dos atletas, o qual valorizam igualmente através de elogios.
Insere-se um conjunto de 10 pontos salientados por Darrell Burceitt e que constituem as principais normas para o comportamento do treinador, nomeadamente, dos que desenvolvem a sua acção junto de jovens praticantes:

· Elogiar os jovens nem que seja só pela sua participação;
· Procurar os aspectos positivos da sua participação e dar-lhes o destaque que merecem;
· Manter a calma quando os jovens cometem erros e ajudá-los a aprender a partir deles;
· Ter expectativas razoáveis e realistas;
· Tratar os jovens com respeito, evitando o sarcasmo, o ridículo ou o "deitar abaixo";
· Procurar fazer com que os jovens sintam prazer na prática do desporto;
· Não assumir comportamentos excessivamente sérios durante as competições;
· Manter a ideia de que a alegria e o prazer são componentes obrigatórias da atitude dos jovens que praticam desporto, com muitos sorrisos e sentido de humor;
· Enfatizar o trabalho em equipa, levando os jovens a pensar mais em "nós" do que em "eu";
· Ser um exemplo de comportamentos respeitadores do espírito desportivo: ganhar sem excessos e perder sem lamentos; tratar os adversários e os juizes com justiça, generosidade e cortesia.

JOSÉ COSTA

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